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sábado, 27 de novembro de 2010



 Lembro quando eu era uma aluna do cursinho, na reta final do ano, próximo à prova da primeira fase da Fuvest. Eu já me sentia muito mal com a minha aparência, mas ainda estava longe da paranóia atual. Trabalhava para juntar dinheiro para mudar o meu corpo, mas ainda era um sonho distante. Estudar ainda era mais importante. Eu sonhava em entrar no curso de História da USP, e meu professor dessa matéria havia se formado lá. Ele convidou aos alunos para participarem da Feira do Livro que acontece todo final de ano no prédio de História e Geografia da universidade, e garantia que os preços eram incrivelmente baixos. Livros com altos descontos - tudo o que eu mais adoro, e ainda em um lugar super especial. Resolvi que preferia conhecer o local quando fosse para eu ir estudar lá. Sabia que se eu fosse doeria mais se eu não pasasse aquele ano.
Quando eu passei e fui fazer a minha matrícula, foi muito mágico entrar lá pela primeira vez. Imaginei todos os meus ex-professores que tinham se formado ali e me perguntava se um dia poderia ser tão boa quanto eles.
Me senti anormalmente bem dentro do meu corpo nestes 2 últimos dias. Ontem fui bem-vestida e arrumada (ousei até colocar uma blusinha aberta na frente!!) ao último dia da Feira do Livro da USP, como aluna, e realmente os preços estavam incríveis. E olha que eu tenho desconto em livros pois trabalho numa livraria, logo é difícil eu achar um livro realmente barato. Eu estava vestida e maquiada como eu sempre quis ser, desde o Ensino Fundamental, estudando na que é considerada a melhor universidade do país (não que seja tão boa quanto dizem), no curso que eu sempre sonhei desde os meus 4 anos de idade. Respirei fundo e pensei "hoje eu sou quem eu sempre quis ser".
"O que significa que eu deveria estar me sentindo feliz, não é?"
 Respirei fundo novamente, tentando invocar uma sensação de felicidade e bem-estar com isso. Olhei para os lados. A universidade que eu queria, o curso que eu queria, e praticamente o corpo que eu queria. Amigas. Família. Trabalho legal.
"Devo me sentir feliz. Então por quê? Por que eu não consigo?"

domingo, 21 de novembro de 2010

Reflexões


 Olá meninas! Como vão? Eu estou aqui com a cabeça a mil...
 Esse negócio de transtorno dismórfico corporal é uma bosta. Não aceitar a própria aparência; se sentir uma merda ao se olhar no espelho; querer se destruir, não importa o preço; acabar caindo na inveja, saudável ou não, de outras pessoas com boa aparência... é tudo muito ruim, mas em meio a esse caos, acabei fazendo algumas reflexões.
 Em primeiro lugar, eu não estou tentando apenas ser bonita, eu estou me destruindo. Desconstruir a minha imagem de alguma forma também é desconstruir quem eu sou de verdade, mesmo que para construir uma outra coisa no lugar - talvez mais agradável estéticamente, mas será sempre artificial, mascarada. E, por que eu quero isso?
 Porque eu não me aceito, eu não me amo, eu não sou amada, e talvez no fundo isso não seja uma questão de como é a minha aparência. Tem alguma coisa errada comigo, interna, que eu não consigo descobrir qual é, por Deus como eu queria, mas eu não sei. E daí é mais fácil mudar a aparência, que os problemas internos; e dizer que a sociedade é fútil por não me aceitar, mas quem sabe o motivo pelo qual eu não sou aceita não é outro?
 Mas, na verdade, qual é o meu defeito? O que há de errado comigo? Por que eu sempre fui tão solitária, tímida, introvertida...? Desde os meus primeiros anos. Eu não sei, mas ultimamente eu tenho achado que a questão é eu ter um corpo maldito, mas talvez seja pior. Talvez tenha algo de muito ruim na minha alma, acho que sempre teve.
 Desde que eu me entendo por gente sempre fui a nerd, a solitária, a que andava sozinha, não tinha amigas na escola, despertava pena das coleguinhas, que se aproximavam mas depois, nossas divergências de áreas de interesse nos afastavam. Ou eu me afastava, e ainda me afasto, sistematicamente, das pessoas que gostam de mim.
 Por que eu faço isso? Por que eu machuco as pessoas? Por que o que eu mais quero é compania, e quando obtenho, vou lentamente perdendo contato com a pessoa, demonstrando desinteresse, até ela se afastar?
 Antes eu aceitava qualquer relacionamento amoroso, por mais doentio que fosse, se um cara se oferecesse para ficar comigo, porque eu não queria ficar sozinha. Sendo muito feia, eu deveria agradecer aos céus por alguém ter se aproximado de mim, e então eu me matava pelo cara, para ele querer continuar comigo.
 E daí eu após muito sofrer pus na minha cabeça que eu não mereço ficar com o primeiro que aparecer, e sim que eu posso ser bela e com isso um dia poder conquistar caras, e ter um relacionamento com alguém que valha a pena estar ao lado, e não qualquer um para não ficar sozinha.
 Mas agora um homem maravilhoso se interessou por mim, e eu... o afastei. Por que eu fiz isso? E sabe... talvez não tenha sido a primeira vez.
 Ele não era de uma aparência modelo, tinha lá os seus defeitos, mas de um modo geral era ótimo e eu... o dispensei.
 Porque quando eu tinha idade para curtir a vida nas baladas, estava estudando. E agora estou na USP, mas com uma adolescência não vivida para trás. Será que é porque eu fui feia? Talvez não, afinal tinha garotas não muito mais bonitas que eu que curtiram muito a vida enquanto eu estudava. Agora tenho trabalho e faculdade, zero de tempo para lazer. E idade para buscar um relacionamento sério. Mas eu não quis o cara porque sei que ele iria querer avançar para um relacionamento mais sério com o tempo - TUDO O QUE EU SEMPRE QUIS A MINHA VIDA INTEIRA. Só que eu quero ter uma fase de curtição antes de fazer isso. Ué, se no passado eu achava que isso era supérfluo, por que usei esse pretexto agora? Será que é uma desculpa?
 Acho que isso é algo como "O estranho caso de Benjamin Button" - eu já era uma séria e responsável adulta no Ensino Fundamental, atrás de uma carreira de sucesso (estudando pra isso), um bom homem que pudesse dar um marido, e de trabalhar para sair da casa dos meus pais. Agora vou fazer 20 anos e quero que a faculdade na qual entrei se foda, aliás eu deveria ter passado o dia estudando mas o passei blogando; trabalho para juntar dinheiro para bobagens para a minha aparência e os planos de sair de casa cedo estão indo embora com os meus gastos em maquiagem; e quando aparece um homem para um relacionamento sério eu corto porque não tem boa aparência o bastante, tem um ou outro defeito que me irrita e... porque eu quero curtir a vida antes.
 Por que c*****o eu não fiz isso quando era mais nova?
 O que há de errado comigo? Tenho mau aspecto, sou um poço de contradições, sou hipócrita enquanto feminista, não consigo manter relacionamentos estáveis porque afasto as pessoas de mim, e agora estou com síndrome de Peter Pan. Quero viver a vida alegre que as minhas colegas de escola viviam, com baladas, rapazes, festas, e tudo mais.... mas eu não estou um pouco atrasada para ambicionar isso?
 São 3h40 da manhã, eu estou zonza, tenho mil trabalhos pra faculdade para entregar na segunda, o post foi uma bosta e eu peço desculpas pelo desabafo, mas eu simplesmente tinha que por tudo pra fora, sabem? Se alguém leu tudo isso obrigada.
 Beijos e continuem fortes

sábado, 20 de novembro de 2010


Olá meninas! Como vão?
Dessa vez reapareci rápido e inclusive antes de ter tido tempo de comentar nos blogs de vocês, porque quero compartilhar já agora uma reviravolta que aconteceu na minha vida. Calma!, não é nada de ruim =)
Bom, fazendo um retrospecto rápido, desde que eu me entendia por gente, eu achava que se esforçar para se encaixar no padrão era fútil, que era possível ser amada sem ser bela, que o importante era o interior, blablablá. E que no fundo eu não precisava de homens, marido, nada: podia ter a minha carreira, a arte, vida política, etc e que relacionamentos amorosos eram secundários. Depois de viver 18 anos de acordo com isso sem nunca ter sido amada ou desejada, só ridicularizada e oprimida, eu resolvi chutar o balde para o que é politicamente correto e correr atrás de ter boa aparência, para conseguir despertar desejo, e quem sabe fazer isso evoluir para amor. Acabei me conformando com isso ser o único caminho para me desafogar da solidão na qual sempre vivi. Pensei: "é injusto, mas só me resta me resignar. É assim que a vida é".
Agora, bem, aconteceu algo para colocar as minhas novas convicções de ponta cabeça...
Cara, sabe uma coisa que me DEPRIME, PRA VALER? Discussões feministas sobre cantadas. Começam falando que cantada é uma demonstração de que a mulher é vista como objeto sexual do homem (ou você já viu uma mulher chamando um homem de "gostoso" na rua?) Depois, fala-se que se você seguir reto sem responder, está aceitando o papel passivo e de objeto. Até aí, até que concordo, mas a partir disso começa o que me dói: cada uma começa a contar as suas histórias. De quando respondeu a esses caras vulgares e que reação recebeu, de quando teve que fugir de um cara que a perseguiu, do medo que sentimos de mexer com um cara que pode estar armado, reagir de forma violenta, resolver praticar um estupro, etc. E sabe por que me dói?
Por que eu não recebo cantadas. Eu não tenho histórias para contar.














 Daí vem alguém e diz: "ah, mas é a mulher que se objetifica... veste roupas curtas, etc." Daí as outras começam... "ah não, mas quando eu estava de roupa rasgada, suja, longa, horrorosa, sem maquiagem, o-raio-que-as-parta, eu recebi uma cantada super agressiva assim assim e assim..."
E eu? Bem... nem passando de microssaia na frente de uma construção eu não atraio olhares. Que dirá elogios.
E sabe, não é só cantadas que eu não recebo. Nunca recebi flores, nunca usei uma aliança, nunca passei um dia dos namorados acompanhada. Nunca fui apresentada a família de um sujeito, nunca fui chamada de meu amor, nunca ganhei presentes. Não sou mais virgem, mas nunca transei por amor. Ou com quem me amasse. Nunca fui pedida em namoro.
Entendem por que eu preciso ser bela?
Então eu comecei a trabalhar, para juntar dinheiro para riscar os itens da minha lista de compras de roupas, sapatos, maquiagens, tratamentos estéticos e cirurgias plásticas que eu vou precisar para poder ser considerada bonita. E fui trabalhar num lugar onde não exigem muito da aparência, meu emprego atual. Mas eis que...
Um colega de trabalho se apaixonou por mim.
E eu já não sei mais o que pensar.
PS: Estou colocando duas fotos minhas abaixo para vocês saberem como eu sou. Tirei especialmente para vocês, girls. Usei uma blusa decotada para mostrar como realmente não tem nada onde deveriam estar os seios. Depois ainda tiro fotos digamos top-less e, um dia, ainda poderei mostrar o antes e o sonhado depois. *-* Ah! Acho que minha lista de coisas que nunca me aconteceram do post já é argumento o bastante para vocês entenderem que não vai adiantar dizer que eu já sou bonita, então nem tentem ;) Bom, pelo menos eu gosto do meu rosto. Força para todas vocês, ainda vamos ser vitoriosas.
Beijos =*****