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sexta-feira, 25 de março de 2011

Pressa

 "A esperança deixa de ser felicidade quando acompanhada de impaciência."
 Olá meninas. Como vão?
 Eu já estou melhor do último post. Tenho percebido que o problema maior que tenho se chama pressa. Tenho todas as ferramentas em minhas mãos para alcançar o que desejo, o problema é que exige tempo, disciplina, esforço diário, dedicação... e a falta de resultados a comemorar dia após dia vai minando o meu auto-controle. Difícil pensar a longo prazo. Relaxo, me descuido, arranjo desculpas ("só hoje não vai fazer diferença..."), e no final acabo retrocedendo ao invés de avançar em direção às minhas metas.
 Preciso entender de uma vez por todas que o hoje é importante, é absolutamente importante, para eu atingir os meus objetivos. O hoje, o agora. Que cada pequeno gesto faz diferença, e eu não posso me descuidar em nenhum detalhe.
 Agora volto à questão, à pergunta que não quer calar. Por que sempre me saboto?
 O que há de errado comigo que sei o que fazer, sei como fazer, compreendo a necessidade de fazer e até tenho os meios objetivos de fazer o que preciso para alcançar os meus sonhos. Mas sempre faço merda. Adio, atraso, erro erro erro. Desculpa sempre tem, mas e solução? Cadê? Se só depende de mim, o que me impele a agir contra os meus desejos?
 O que procuro hoje é bem-estar psicológico. Conseguir ir levando a vida, dia após dia, com um sorriso no rosto, mesmo que as minhas realizações tenham que vir a passo lento. Conseguir encontrar prazer nas coisas do cotidiano, e ir relevando o que não dá para ser mudado. Ir afastando a neura, sem afastar da agenda a ação concreta em prol do que anseio.
 Trago aqui algumas frases que julgo inspiradoras.

 "Muitas pessoas pensam que a felicidade somente será possível depois de alcançar algo, mas a verdade é que deixar para ser feliz amanhã é uma forma de ser infeliz."

 "Adote uma disciplina sadia, mas não seja exigente demais. Seja gentil com você mesma."

 "Se queres ser feliz amanhã, tenta hoje mesmo."

 "Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo."

quarta-feira, 16 de março de 2011


 Eu estou desistindo. Alguém, por favor, não me deixe perder a fé em mim mesma. Alguém, alguma coisa. Por favor.
 Será que eu sou capaz? Acho que eu nasci com algo ruim por dentro, eu não sei o que, com uma incapacidade inata, com uma couraça de espinhos. Onde está a minha disciplina? Onde está o meu auto-controle? Onde está a minha determinação? Pra onde foi a minha determinação? Pra'onde? E aquela auto-confiança, não de quem se ama, mas de quem se acredita capaz de mudar para merecer o amor? Um dia eu acordei e ela não estava mais aqui dentro. Para onde ela foi?
 Acho que eu sei a resposta: ela nunca esteve comigo.  No fundo eu sempre soube, eu sempre soube que não conseguiria. Eu sou uma profissional em encontrar desculpas para os meus fracassos e falsos-pretextos para postergar as minhas realizações. "Quando tal coisa acontecer..." Tal outra irei fazer. Felicidade eu vou sentir. Daí eu vou sossegar. Daí, sim, tudo estará resolvido.
 Mas daí a tal coisa acontece. E eu faço o que me propus a fazer? Me sinto feliz? Sossego? Tudo se resolve? Não, não. Não e mais não. Eu só adio para depois de mais uma outra coisa, a minha felicidade, a minha aquisição de disciplina, etc.
 Talvez nem com disciplina, auto-controle e determinação. Talvez seja só impossível para mim. Talvez seja só insolúvel o meu problema, deve ter algo de errado comigo, que eu não sou capaz de localizar, mas que se fosse ficaria louca, e nem sequer conseguiria mudar. Preciso reconhecer que sou um caso perdido.
 Quando vai chegar o dia em que eu vou ser feliz? Eu já não agüento mais, ir realizando uma coisa após a outra, e nada ser o bastante. Nada me adianta para conseguir o que eu realmente almejo. Mais um fracasso. Quantos já foram? Quantos mais eu terei que sofrer?
 Devo estar procurando o que realmente quero nos lugares errados. Lutando pelos meios errados. Mas, por Deus, quais são os certos? Será que eu ainda não tentei todas as alternativas? Eu estou esgotada. Não quero, mas acho que só me resta desistir.
 Eu já nem acho mais que sou capaz de melhorar. Talvez não importa o quanto eu melhore, nunca seja o suficiente. Não o suficiente para eu alcançar o que eu quero de fato. Eu devo ser tão ruim que nem uma vida de esforços me melhoraria o bastante para eu chegar em um patamar aceitável.
 Talvez eu tenha uma predestinação, um estigma, algo de negro e indelével, que me impeça de alcançar o que eu quero. E talvez eu queira tanto justamente porque não me é possível. Eu tenho tantas coisas, tantas qualidades, tantos bens, tantas oportunidades... eu provavelmente deveria aprender a ser feliz com essas coisas, afinal eu provavelmente nunca vou conseguir mais. Mais do que eu tenho, e realizar o meu desejo. O meu desejo "mais profundo, e mais desesperado". E que é o mais legítimo desejo que um ser humano pode sentir.
 Quando, afinal, eu vou conseguir ser amada? Construir a minha própria família? Acho que eu deveria reconhecer que simplesmente não sou capaz. Eu achava que se fosse me melhorando e persistindo uma hora eu conseguiria. Mas eu devo reconhecer de uma vez que simplesmente isso não é para mim, é para pessoas melhores que eu.
 Eu sou um espinho, eu sou um vômito, eu sou um mau-cheiro, eu sou um bicho feroz, eu sou qualquer coisa que afasta e afasta e afasta as pessoas. Eu sou um incômodo, eu sou uma inútil, eu sou aquilo que não é bem-vindo, eu sou aquela que não é convidada. Eu sou o único verde em um todo preto, o único círculo entre vários triângulos, eu sou um estrépito no meio de uma melodia, eu sou aquela que distoa do todo.
 Meu destino é o isolamento, e eu nunca deveria ter tentado romper com isso, porque é impossível.
 O meu sobrenome de casada é Solidão.

sexta-feira, 4 de março de 2011

 "(...) conseguiu aprender somente a odiar a si mesmo. Contra si próprio, contra esse objeto nobre e inocente, dirigiu a vida inteira toda a genialidade de sua fantasia, toda a força de seu poderoso pensamento. Foi precisamente através do Cristo e dos mártires que aprendeu a lançar contra si próprio, antes de mais nada, cada severidade, cada censura, cada maldade, cada ódio de que era capaz. No que respeitava aos outros, ao mundo em redor, sempre estava fazendo os esforços mais heróicos e sérios para amá-los, para ser justo com eles, para não fazê-los sofrer, pois o 'amarás teu próximo!' estava tão entranhado em sua alma quanto 'odiar-se a si mesmo'; assim, toda a sua vida era um exemplo do impossível que é amar o próximo sem amor a si mesmo, de que o desprezo a si mesmo é em tudo semelhante ao acirrado egoísmo e produz afinal o mesmo desespero e horrível isolamento." O Lobo Da Estepe - Hermann Hesse

 Pois bem, aqui estou eu, ou o que restou de mim, após esse longo processo de auto-desconstrução. Mudei de peso, corte e cor dos cabelos, seios, roupas, unhas, pele. Modos. Visão de mundo. E de mim mesma.
 Hoje gosto do que vejo no espelho, não sinto vergonha de quem sou, não sinto auto-desprezo, não sinto inveja, não me sinto inferior.
 Dizem que o meu caminhar vai mais elegante, que eu pareço melhor, que tenho sorrido mais. As pessoas elogiam minhas novas roupas, ouço cantadas, recebi uma proposta de namoro, comecei a freqüentar baladas, estou aprendendo a me aproximar dos rapazes...
 Pelo lado negativo, ainda estou me recuperando de uma tentativa de estupro ocorrida na última noite de quarta-feira. Mas não aconteceu nada de grave. (Não, eu não estava de decote nem usando uma roupa colada, ou curta. Estava com uma jaqueta folgada, calça jeans e um salto baixo. Só não consigo deixar de sentir uma espécie de orgulho ao pensar "alguém mal pode conter o desejo que sente por mim")
 De alguma forma, embora eu não odeie mais a minha aparência, não tenho 100% de bem-estar com relação a ela. Eu sinto alguma culpa por me encaixar em um padrão que deveria ser combatido, e não endossado. Mas sei que foi melhor pra mim reconhecer que preciso fazer isso por mim mesma, mesmo que não seja o desejável para o conjunto da sociedade na qual estou inserida.
 E depois disso tudo, sinto que pouco mudou de verdade. Porque meu objetivo era combater a minha solidão, tarefa que ainda não concluí.
 Consigo sociabilizar e ser mais bem-aceita pelas pessoas, mas não consigo deixar de notar o quanto esses relacionamentos são frívolos e carecem de profundidade. São também efêmeros e muitas vezes baseados em interesses. Eu preciso me reaproximar das amigas de verdade (coisa que já tenho feito, embora com falhas).
 Ainda não tenho um namorado, mas isso já não me parece algo impossível, só algo que levará tempo. Não sou mais carente para ficar com qualquer um que queira.
 Mas a coisa mais importante aconteceu ontem. Tive um lampejo, um insight, uma epifania. Foi libertador, e tenho que dividir.
 Sabem o que estava nas raízes da minha falta de amor-próprio, de auto-aceitação, da minha carência? O fato de eu não ter sido amada pelo meu pai. "Se nem o meu pai me amou, eu devo ser horrível. Todo pai ama a própria filha, só uma monstra é tão ruim que nem o pai gosta dela. Se nem ele me ama, quem vai amar?" Eu me dizia, desde os meus 3 anos de idade, embora eu já tivesse esquecido disso.
 Repentinamente me dei conta de que, simplesmente, o problema não está em mim. Não é a minha aparência. Não são os meus defeitos - quem não os tem? Eu sou linda. Se eu não fosse, isso não justificaria nada, as pessoas não merecem amor só depois de serem belas. Eu sou um ser humano fantástico. Sou culta, sou altruísta... Foi um abandono na infância eclipsou isso. Só que agora basta.
 Eu estava tomando café-da-manhã, quando de súbito, me lembrei que quando eu era mais nova, fazia isso, subia as escadas até o meu quarto, e ficava chorando em algum lugar visível, dizendo "ninguém gosta de mim". Isso era um misto de desabafo com necessidade de chamar a atenção das pessoas para a minha tristeza. E as pessoas da minha casa nunca, por mais que eu desejasse isso com todas as forças, faziam como eu fantasiava, e me perguntavam "Tally, o que você tem? Por que está chorando? Posso te ajudar?" Não, ninguém se importava.
 Lembrei também que eu ia toda orgulhosa mostrar para o meu pai meus desenhos, minhas notas, as coisas que eu aprendi. Ele demonstrava desinteresse e me pedia para que eu o deixasse ver o jogo de futebol, terminar de comer, ou simplesmente ficar sozinho, "em paz". Eu odiava a idéia de a minha presença roubar a paz dele. Elogios? Nunca.
 Eu fui crescendo e começaram as brigas. Cada centavo gasto comigo jogado na minha cara como um favor custoso e terrível que eu tinha que ter vergonha de ter imputado. Berros, agressão física, inclusive em público. As pessoas comentavam, desviavam os olhos de vergonha, mas acudir? Nunca. Minhas lágrimas foram desconsideradas, e nunca ouvi ou ouvirei um pedido de desculpas.
 E então vieram as críticas. A tudo, não vou ficar enumerando, não quero aborrecer. Mas elas foram severas, dolorosas, penetrantes, e o mais importante: imerecidas.
 E por fim, veio o abandono definitivo.
 Nunca vou entender o motivo, mas hoje "conheci a verdade e ela me libertou": qualquer que tenha sido, não fui a culpada. Nenhuma criança merece a indiferença, o abandono, os espancamentos, as crises de berros, o ódio. O ódio, o ódio puro, pulsando nas veias, avermelhando o rosto, o corpo todo, impelindo ao ataque físico, e a todo tipo de demonstrações de cólera. Em público, na frente de familiares, desconhecidos, na rua. Nenhuma criança merece ouvir que não devia ter nascido, todas as vidas são preciosas para o mundo. Nenhuma criança merece ser considerado um saco de despesas que o pai se arrepende de ter gerado. Se ele ao menos fosse muito pobre... mas não é. Ele é só mesquinho, egocêntrico, frio, malévolo. Eu nunca fiz nem poderia ter feito nada para ele.
 Não, eu não sou detestável. Eu não sou uma monstra. Eu não sou horrível. Ele é horrível.  Eu sou digna de amor, eu sou especial, eu sou única. Não li isso na Bíblia, nem em livros de auto-ajuda. Não foi porque uma amiga disse. Não vi na televisão. Nenhum pastor evangélico me pregou isso. De repente, eu simplesmente soube disso.
 Pai, obrigada por tudo. O seu ódio me impulsionou aos mais altos patamares de auto-exigência, e portanto, de auto-aperfeiçoamento.
 Agora, acabou. Hoje eu sou livre. Para me amar, ser feliz, e receber amor de volta. Não importa como eu aparente ser.

 ----- ♥ -----   ----- ♥ -----  ----- ♥ ----- Algumas siliconadas ----- ♥ -----  ----- ♥ -----  ----- ♥ -----