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sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

 
 É a mais pura falta do que escrever o que vem me afastando daqui. Já não sinto tanto mal-estar com o meu corpo. Racionalmente sei que tenho uma aparência imunda e deveria ter vergonha de sair à público, mas minha concentração tem se voltado mais a reparar no que as outras mulheres, vitrines e celebridades vestem, do que ao auto-ódio. É um sentimento qualquer entre a inveja, a admiração e a inspiração no exemplo. Dependendo do meu humor no dia, pode ser mais para inveja, ou mais para inspiração. Às vezes simplesmente depressão. Sinto que meu mp3 tem executado cada vez mais músicas tristes que felizes.
 Parece que cada dia descubro mais um defeito no meu corpo.  Tento afastar esses pensamentos, dizendo a mim mesma com firmeza "estás a ficar louca e paranóica, esse detalhe não é nada de tão grave e não deves odiar-te por ele". Penso isso principalmente quando reparo em algo em mim que não posso mudar. Mas dali a pouco estou novamente a pensar em modos de remover aquela nova imperfeição recém-reparada. Chegará o dia em que não haverá mais uma só célula em mim que não me deixe descontente?
 A esse respeito venho sendo otimista, me parece que não. Tenho depositado fortes esperanças de que ano que vem (não pela passagem do ano, mas pela passagem por uma plástica), tudo vai ser diferente, aquilo que mais me incomoda em mim será mudado, e me prometo e reprometo que seja lá qual for o resultado final, vou aceitá-lo, e que todo o resto de problemas são detalhes, que eu vou relevar para aproveitar a vida. O horizonte me parece bonito como desejo ser: primeiro a plástica, depois um pós-operatório enfrentado com alegria e resignação, para finalmente montes de belas roupas, baladas, momentos alegres, auto-confiança para me respeitar e com isso impor o respeito que mereço receber.
 Não posso perder isso de vista. Ano após ano venho me prometendo "ano que vem vai ser diferente". Mudo de ambiente, quero conhecer pessoas novas, nas quais causar uma boa primeira impressão, e daí por diante ter relacionamentos sadios com elas e comigo. Mas a minha sombra interna vai junto para onde quer que eu fuja e escurece as minhas possibilidades de, este novo ano, me dar bem com as pessoas, este novo ano, ser mais extrovertida, este novo ano, ser disciplinada o bastante para sempre sair com boa aparência todo dia. E sistematicamente falho, aliás há 6 anos que falho. Desta vez creio que não porque vou passar a me amar, e com isso creio que finalmente será possível ser feliz.
 Mas o amor-próprio não pode vir antes da beleza, e a beleza não pode vir antes de ser magra, ter seios e quadris fartos, pele bonita, cabelo bonito e roupas com calçados legais, além de um aspecto bem cuidado. Ando otimista pois essas coisas todas me parecem fáceis de alcançar. Sei como fazê-lo, e me parece apenas uma questão de tempo. Mas, se já sei o caminho, por que me saboto? Por que não páro de fazer o contrário daquilo que sei que devo? De comer porcarias, de não fazer a sombrancelha, de deixar as unhas de tamanhos desiguais, de ter os cabelos revoltos, e o olhar cabisbaixo?
 Talvez não seja uma questão de o tempo passar, mas de a motivação chegar. Uma motivação forte, que me inspire disciplina, que me impulsione a agir como devo agir para atingir minhas metas. Por que ela não vem? Por que me abandono à preguiça, aos maus hábitos, ao descuido? Eu entendo o que quero, entendo como fazer, entendo a necessidade de fazer, e entretando não faço. Só o que não entendo é a mim mesma. As minhas contradições internas, as minhas crises de culpa.
 Entendo bem demais, bem o bastante para sentir remorsos, que estou trabalhando por uma indústria de fazer loucas que quer sugar o meu dinheiro, o meu tempo produtivo, a minha qualidade de vida. Para me induzir ao consumo, me tirar do jogo de poder e deixá-lo nas mãos dos homens. Uma indústria que não se importa com a minha morte, nem a de todas as anoréxicas e bulímicas, nem as dos vigoréxicos e outros tantos transtornados como eu. As indústrias têxteis, de cosméticos, de plásticas, as academias, a imprensa de massas, nenhum deles se importa com as nossas dores, as nossas lágrimas, os nossos espelhos internos e externos quebrados, os nossos 7 anos de azar por quebrar o refletor das nossas imagens e nos enxergarmos nos seus cacos torcidos.
 E mesmo entendendo tudo isso, não consigo jogar tudo para o alto e me aceitar sem ser bela nos moldes de beleza estabelecidos. E mesmo sabendo como me encaixar, não empreendo a disciplina e o auto-controle necessários para fazê-lo. Deus, o que há de errado comigo?
 Sinto-me uma folha carregada por um rio caudaloso e denso, que corre rápido, a que chamam sociedade.Esse coletivo de gotas, individuais mas não-individualizáveis, tão mais forte que eu, vai em direção a um mar desconhecido por mim no qual invariavelmente desembocará. Meus esforços em contrário, meus protestos, minha indignação nem sequer são fortes o bastante para que eu me mova contra essa correnteza, sou só uma folha inanimada, dependo desse entorno para ter deslocamento, mesmo que em uma direção  que não aprecio. Tenho a clorofila que me particulariza sendo arrancada pelas águas, às quais tinjo muitíssimo levemente mas não altero de modo algum a direção. E vou indo assim sem querer, para onde me carregam, me perguntando de onde tirei forças para questionar a direção tomada, e no final para quê isso serviu, sem ser me provocar sofrimento. Existirá "livre-arbítrio" na História?

8 comentários:

*Hurt butterfly;* disse...

Dessa vez tbm pretendo cumprir o que há tanto tempo planejei, mas não coloquei em prática ou desisti no meio do caminho.
Faz anos q estou falando em cuidar melhor da minha aparencia, eu ateh melhorei um pouco, diminui alguns complexos, mas racionalmente falando, tem muita coisa no meu corpo que tah uma vergonha!!
Essa semana tive compulsoes, exagerei e muito nos doces, refri, essas coisas. Mas hj olhei no espelho, vi akelas minhas espinhas e banhas nojentas (q já era pra ter saido faz tempo). Ai falei: Agora vou mudar! Chega de doces, o que eu preciso é de água, salada, alimentos saudáveis e sem ser gordurosos. Espero agora tomar jeito!!
Realmente a sociedade e a indústria da beleza são cruéis!
Mas não podemos ficar presas em agradar os outros, pq de qualquer forma, nunca vão estar satisfeitos!
Sucesso sempre flor!!
Beijoos e força!

Rafaela Lisboa disse...

Tally, ouvi falar q geralmente essas pessoas q desenvolvem um tipo de disturbio como o nosso...ana/mia/distorçãodautoimagem...etc... tem a haver com a personanlidade...mas realmente é dificil...mas essas coisas naum sei c é por causa do disturbio ,mas eu acho normal....naum me acho doente...ficar sem comer por horas, ou vomitar 1 minuto depois de comer....sim as vezes..ultimamente muito frequente faço isso.
por volta dos meus 13/15 anos fui gordinha e me achava a pessoa mais infeliz do mundo entrei em depressão, era orrivel aqla senssão..de se achar feia, naum trocar de roupa na frente das pessoas até mesmo irmãs, só namorar meninos feios(orriveis), naum sair de casa(porissoqhjsoubaladera)...hj lembro me dá até ***, e foi um dos motivos q desenvolvi anorexia...e hj em dia tbm sou bulimica...me vejo uma baleia...acordo passo a mão na barriga e fico morrendo de raiva se sinto alguma saliencia...e nunca até mesmo abaixo do peso me vi magra...apesar de saber q estava magra...continuava comprar roupas largas.
hj em dia tou um pouco acima do peso naum como antes...mas isso me tira o sono.

Chega um dia q cansamos...q pensamos temos q fazer algo por nós mesmo, chega de ser despresado, chega desse sentimento de despreso por nós mesmo, isso tm q mudar, eu qro ser um pouco mais feliz, um pouco mais normal, qro realizar um sonho, fazer coisas, qro ser percebida, naum qro q ninguém sinta pena de mim ou me humilhe...qro ser feliz.

adoro ler teus post, acho eles muito profundo e verdadeiro...tanto q me identifiquei com todos q li até agora.

e qro fazer uma listinha de coisas igual essa q vc tm à direita.

em relaçaõ a foto...q olhar triste, e como eu ja disse vc naum é linda mas tbm naum é feia.
Acho q se vc sorrisse a foto ficaria melhor.

Sério q vc ja vai fazer a plastica ano q vem....marah parabénss.

e se irá valer a pena??sim e muito...sabendo q vaum surgir outros, mas a principio um pouco mais feliz.

enqnto a plastica naum chega q tal um sutiã de bojo migah....mas te adimiro muito e falo d vc pra uma amiga...pq ela tm as mesmas "neuras" q vc, e realmente vc corre atrás, muito gnt aceitaria e nem acreditaria q seria possivel "tal", Tally super bjo.

e acreditando sempre no por do sol.




bjos e se cuidah.




*_*

menina disse...

Primeira mente muito, mas muito obrigada pelo comentário no meu blog. Achei muito sincero e lindo. E chorei. é um conforto saber que eu não estou sozinha, porque parece que até no blog as pessoas se cansam de mim...

_
Sobre o seu post, entendo e concordo com o seu ponto de vista. Ninguém se importa com ninguém. A indústria da moda está crescendo mesmo que tenha que levar a vida das garotas anoréxicas obcecadas com a beleza prometida. E é estranho se sentir levado também por essa ilusão de ser perfeita e que tudo ficará bem quando isso acontecer.
Mas no fundo eu e você sabemos que a perfeição não existe. Não em nós mesmas. Podemos ser a garota mais linda, rica, famosa, admirada do mundo, mas sempre haverá algo faltando para a nossa felicidade ser tão completa quando os outros pensam.
Entendo o quanto é difícil 'lutar contra a correnteza'. Renunciar ao padrão que nos impõem e decidir que se será feliz longe de tudo isso. Acho até que é impossível, afinal, fomos educadas assim desde que nascemos.
No fim, o livre-arbítrio existe sim. Mas acima de tudo é preciso ter muita força e coragem para renunciar o falso perfeccionismo e viver realmente feliz.
E é essa força, essa coragem que eu desejo pra ti. pra nós todas.

se cuida.

Casper Phanton disse...

Obrigado pela força querida, realmente suas palavras me confortaram e muito!

Estou tentando me reerguer, mas está difícil :/
Não estou mais estudando e não tenho um emprego, estou ficando o dia todo em casa e isso está me matando.
Me sinto vagabunda, sei lá.
Muito obrigado mesmo! Eu vou tentar continuar... Vou tentar chegar nos meus objetivos.

Jessika disse...

Vc é linda uma thinspo!

Anônimo disse...

Vc é linda uma thinspo!²
eu sei que é dificil aceitar algumas coisas!!porém só você que pode mudar a imagem da tua cabeça que reflete no espelho ... as vezes o que vimos não é exatamente isso!!!
fike bem amor!!!
bjos

Bella disse...

Oi minha linda... Eu estou ótima e você? :) Ah que isso, não tem problema, eu é que me desculpo pela demora. Muito obrigada por tentar me ajudar, você não sabe o quanto eu lhe agradeço por isso. É tão bom saber que você se preocupa, muito obrigada mesmo. É, eu segui tua dica, me agarrei na Ana e larguei a mia. Que deus te ouça hahaha, não vejo a hora de conseguir atingir minha meta. E deu mesmo no que você disse, mia + nf = compulsão. Nossa flor, você está magrinha, 44 kg *-* Odeio sanfonar também :/ Mas o negócio é levantar, não é mesmo?

Beijos flor, me dê notícias

Ramona disse...

A motivação pode ser a solução ou o problema, cuidado. Cuidado, principalmente com as vitrines e com as imagens que usa para inspiração. Como você mesma disse, existe uma indústria muito esperta e sem escrúpulos querendo dinheiro. Por isso, vitrines e fotos de campanha têm muita mentira, quilos de maquiagem e muito photoshop, e portanto são irreais. Ninguém é perfeito, não existe ideal perfeito, há milhões de belezas diferentes e igualmente belas. O que chamam de defeito, pode ser um charme que a realça.

Senti no começo do post um ânimozinho despertando, não deixe-o morrer! Uma folha no rio não tem um único destino, pois este possui inumeros afluentes, basta escolher o vento a te guiar!